sexta-feira, 30 de julho de 2010

Silencio


Cuando tu te quedes muda,
cuando yo me quede ciego,
nos quedarán las manos
y el silencio.

Cuando tu te pongas vieja,
cuando yo me ponga viejo,
nos quedarán los labios
y el silencio.

Cuando tu te quedes muerta,
cuando yo me quede muerto,
tendrán que enterrarnos juntos
y en silencio.
y cuando tu resucites,
cuando yo viva de nuevo,
nos volveremos a amar
en silencio.

Y cuando todo se acabe
por siempre en el universo,
será un silencio de amor
el silencio.


Andrés E. Blanco

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Lótus


Não te esqueças de proteger os ouvidos. Porque — algumas horas depois — o som
de uma pétala ao cair no chão era capaz de te rebentar os tímpanos.


Jorge de Sousa Braga

in, Inimigo Rumor 9,
7 Letras, Rio de Janeiro, 2000.

Ciclo

Calor de colo
colo de mater
maternidade.
A tenra idade
e o fenecer.

Labor ao solo
solo que é colo
e sepultura...
A morte e a cura
vão nos valer.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

d'ajuda

À frente, um oceano romântico.
Nas costas, o deserto apaixonante.

Uma iluminura na mão,
e descobri a inexistência de Deus.
imagem da nasa

terça-feira, 27 de julho de 2010

Aprendizado

Em nossos olhares um estranho ballet de reminiscências.
De dúvidas são feitas o Amor.
No porão das minhas angústias não há mais nenhum medo.
Nenhum sigilo ou segredo.
O cofre de minh’alma arrombado.
Vísceras expostas, saudades mutiladas.
Meias-verdades inacabadas.
Estou triste. Só isso.
E sei como bem vinda é a alegria.
Mas permaneço triste.
Essa tristeza que parece até edificar a vida.
E que, como troco, lhe dá algum sentido.
Logo, logo ela passa e volto a ver meninas com tranças dançando na chuva.
Mas deixa eu vivê-la: errado ou certo, aprender com ela.
Deixa ela escorrer em minhas lágrimas mudas até o final.
Logo amanhecerei sorrindo, cantando, dançando e feliz.
É que dessa tristeza eu sou aprendiz.

Alyne Costa, Julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Vago

Sol de post-it em céu de piscina
Armado rente ao vão segue o meliante
Cantante, trôpego, mas bem confiante
De mais uma manhã de alforria
É grande a cantoria na praça da Sé
É muita a fé de pequeno povo
Sôfrego, roto e inrotulável
Mantêm o passo pobre criança
Feito já de pó e desesperança
Fruto vulgo de amante porfia
E segue a cantoria: "lá lá lá vai o dia
Sente, rente a carne fria, pá pá pá
Frio metal, rápido e sem rancor, trá trá trá
Pernas e joelhos ao chão, tum tum tum
Menos um João no coro, oh oh oh
Mais duro o couro do cidadão, hum hum hum
"

domingo, 25 de julho de 2010

hoje é Domingo !


hoje é domingo, a tarde tem bingo
se tiver sol, vira até um futebol
em Sampa, tudo encanta
dia de “macaroni con braciola”,
e ninguém precisa ir pra escola !

na Paulista, até onde alcança a vista
dá pra andar “de a pé”
do Trianon, até a praça da Sé
e se fosse mais novo de novo
quem dera, doce quimera
iria fácil, fácil até o Ibirapuera...

hoje é domingo, pé de cachimbo
gente chique usando cartola
moça bonita com brinco “argola”
dia de criança descalça e “mendingo”
correndo da fome e pedindo esmola...

hoje é domingo
dia de “macaroni con braciola”
e ninguém precisa ir para escola !
Dia de missa e canto na igreja
barrigudo na praça, gente que abraça
enchendo a lata de cerveja...
latinha vazia no chão entupindo bueiro
e os “gari” na segundona, ralar o dia inteiro...

hoje é domingo, pede o cachimbo
dia de futebol, samba e atabaque
dos Jardins, gringo e sotaque
arquitetura de Tomie Ohtake
hoje é domingo, dia de bingo
e cachimbo cheio de craque
no centro da cidade...


joe_brazuca sp/sp 2010

sábado, 24 de julho de 2010

eu-tu, nós em miúdos 2


Arte: René Magritte



quero amor
.........sem nome, rosto, lugar.
.........Alguém que, se minguada lua for,
.........venha estrela.




não basta amor,
.........essa palavra gasta!...
.........Passa trem a vapor
.........: uva passa...




imagem po® ética se foi...
.........ficou saudade:
........................................rio
..........................som
......................................brio





A Cidade Vazia

Para Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha

arte: Hugo Martins


Nada se sabe sobre essa cidade vazia.
Para onde foram os seus não há pista.
Nenhum detetive seria capaz de descobrir,
nenhuma cartomante poderia ajudar.

O semáforo sorteia o verde e o apresenta,
carro algum se disponibiliza a avançar –
estúpido, só o faz mediante chicotadas.
O letreiro luminoso oferece sanduíche,

ninguém para matar a fome ou a sede –
que seja através do saque, às claras:
as portas abertas convidam ao crime,
o cofre bojudo dorme um sono pesado.

Seria um flautista arrebanhando gente,
ou uma promessa de vida melhor adiante?
Pista alguma se encontra que as comprove.
A cidade é a mesma de ontem. E não o é.

O Silêncio que nunca andou por essas ruas,
a Paz que ainda não havia se mostrado,
a Tranqüilidade definitivamente alforriada
são os únicos que por aqui restaram.

Um gás letal terá pegado todos de surpresa
enquanto dormiam ou escovavam os dentes?
Um deus vingativo terá vindo puni-los
pelos séculos de luxúria e lassidão?

Sol e chuva por fim vencerão a luta, come-
rão a parede das casas e a pele do asfalto...
A barragem saciada se romperá
afogando os prédios, soterrando os bairros...

São conjecturas apenas.
Nada se sabe sobre essa cidade vazia.




arte: Hugo Martins


sexta-feira, 23 de julho de 2010


Lua Urbana


Tem uma lua pendurada na minha janela
Uma lua pálida e urbana
Uma lua distante
Vejo como me vê
Indiferente
Eu sentada sobre meus problemas
Ela sozinha num céu sem enfeites
Somos ambas metáforas de algo
Só que esqueci de que
E ela também.

A parede, além de ouvidos



Insaciável a parede.
Tão logo pintada,
novamente se enche
de sede.
A perder-se,
quase chega
a coitada:
trinca
e infla,
de si infiltrada.

E, recostada à cabeceira,
como se ainda
à beira de um sonho,
com a tinta
eu me ponho
intrigada,
a indagar:
_ A que assistiu
cada camada?
Pois se logo
se consumiu a parede,
não há de ter sido
por nada.


Renata de Aragão Lopes


Durante leituras de Manoel de Barros.
Poema publicado em 8 de julho no doce de lira.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Não peças

Não peças que eu
Não te ame
Não te queira
Que sufoque o meu desejo
E faça de conta que somos
Apenas amigos.

Ainda não aprendi
O impossível.

Não posso.
Nem quero!

terça-feira, 20 de julho de 2010

mil novecentos e qualquer coisa

no beco
os ratos
fizeram a revolução

fundaram a república do lixo
e se prepararam
para tomar de assalto
o resto da cidade.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A rosa

créditos da foto: Flávio Offer


Os pássaros cantam.
A rosa...
a rosa se cala
em busca de encantos
provindos da própria alma!



*** Poesia do Livro "Cata Ventos", 2005.

domingo, 18 de julho de 2010

SENTINELAS

Sentinelas expostos ao vento,
armas em punho,
esperando inimigos que nunca chegam.

E quando chegam,
o medo se confunde:

É a excitação de ver o inimigo tão vivo,
tão quente, alí,
logo à frente.

O inimigo com quem sempre sonhara.

E o sentinela, de armas em mãos,
destrói o inimigo a golpes fortes,
e o põe em pedaços.

E o que tanto esperara,
o sonho que tivera,
falece em sangue diante de seus olhos,
e o vento volta a fatigar seu rosto
enquanto passa a sonhar novamente
com uma nova companhia
que deseje a sua morte.

Nanquim

Ontem,
como num acalanto,
estive entre o riso e o espanto.

Lembrei dos ventos frios
e da lua de brilho raro,
quando sempre me deparo,
com a lembrança
dos teus traços,
e assim,
revivo os abraços
e os sonhos
outrora rascunhados.

Hoje,
em pé na varanda
percebi que suas pegadas,
a tanto tempo cunhadas
em minhas ruas de nanquim,
ainda não se apagaram.

E como de praxe,
minha esperança de guache
se borrou com meu pranto.

sábado, 17 de julho de 2010

a eternidade em um dia

alfred eisenstaedt©

























1945
o grito preso na garganta alça voo e dançam
paris nova iorque moscou stalingrado

um olhar uma câmera um clique
um beijo efêmero e um instante eternizado

(
194619471948194919501951195219531954
195519551956195719581959196019611962
196319641965196619671968196919791971
197219731974197519761977197819791980
198119821983198419851986198719881989
199019911992199319941995199619971998
199920002001200220032004200520062007
20082009
              )

2010
morre em los angeles edith — que por conta
de um beijo jamais envelheceu



Márcia Maia


*edith= edith shain, a enfermeira da foto.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

RECLAME

Eu bem sei

que não ouvi o canto,

que pensei

que não havia um pranto,

nestes olhos, que fechados,

abriram os meus.

Aprendi sozinho,

mas tarde,

a fazer carinho

na vida, que doente,

lhe negou um amigo.

Um sonho esquecido

na lição aprendida

que um peito sem perdão

não é mole não, moça.

Dá-me de volta o seu coração.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dedo de prosa

O livro Noturno do Chile me ensinou palavras como aleive, azáfama, egrégio, curul, barbacã, aguilhoado, literalmente uma aula, recomendo com força. Dia desses vi os filhos do Luciano Huck com os avós no Jardim Botânico, eles me pareceram tão normais, não era isso que eu esperava. Gosto de tudo do poeta L. Rafael Nolli e do poeta Everton Behenck, sou fã do pensamento autoral do Victor Meira. Às vezes quando estou com mau hálito e me olho no espelho, digo: que pena, ou: não era isso que eu esperava para mim, ou: deus está vacilando demais comigo. Agora que consegui o endereço do Chico, intenciono deixar uma cópia do meu livro em sua portaria, tenho esse romance na gaveta, procuro editoras no escuro, mas quem vai querer publicar alguém que nunca foi publicado? Caminhando pela Gávea fui abordado por um mendigo: você está me vendo assim barbudo, mas eu tenho um coração bom. Baixei o filme francês O Profeta mas ainda não vi, dizem que é excepcional, uma aula de cinema. Passo fome, mas não passo um dia sem ouvir a bela Dez Contados, com o Moska e a Céu nos vocais. Vindo ao Rio, não deixe de provar as comidinhas Da Casa da Táta, principalmente o bolo de laranja que é um assombro, esses dias pus a mão no ombro do proprietário e disse: é a melhor coisa que comi na vida. Acho o Rafael Godoy um gênio, do mesmo jeito que semana passada passeando pela rua Augusta conheci o trabalho dum artista chamado Cão e considerei que ele fosse, junto com o Rafael Godoy, um gênio. Genial também é a obra do Davi Caramelo, que costumo intercalar como fundo de tela do meu computador. Fiquei descrente das gentes quando vi o aglomerado gritando assassino! e festejando tragédias. Meu dileto programa para sábado à noite é ler tuitadas, por exemplo: os vinícius que me perdoem, mas beleza é subjetiva, Ney Reis. Ou esta, atribuída a Platão: seja gentil, porque cada pessoa que você encontra está lutando uma batalha difícil.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Colisão !

Parem de martelar minhas têmporas!
Escombros do vetor declínio
Que insistem em me profanar

Impacto que esfacela o ego
Voadoras acertam o queixo
Todos os ossos a se quebrar

Queria que beijos fossem bombas
Explodindo este ranço de medo
O passado a se desintegrar

E com o coração nos punhos
Tento um rabisco cartesiano
Repetitivo e leviano
Que reinvente o verbo Amar

há sombra


Google imagens


alvoreço
anoiteço
"zumbizo"
:
nenhuma surpresa
me pega
de improviso

nenhum palpite
atinge o poente
no hiato da noite
nenhuma ponte

inexiste horizonte
plano crástino
destino sísmico

não há
mísero efeito
mínima causa
o menor movimento

no ar
[noir]
nenhum porvir
excêntrico

nenhum mistério
me leva a sério
[affonso]
a ponto de aprontar
assombros


valéria tarelho
(à sombra dos Assombros de Affonso Romano de Sant'Anna )


Assombros

Affonso Romano de Sant'Anna


Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Prosa poética - Proseando no mundo velho sem porteira

Algumas vezes quando ergo minha mão sinto o “shakra” receber a energia da totalidade - seja ela o que for – o que me levou a ser incapaz de ser sob um certo aspecto. Dedicar-me a um certo conteúdo a finco, como a maioria dos mortais.
Só pode ser aquilo que deve ser aquilo que ilumina toda humanidade:
A vontade de Ser Deus!
Sempre interessado por tudo, sempre interessado pelo cume do metal metafísico...
Ambicionando tudo aquilo que traz dor-êxtase- omeprasol-lsd-drogas-espasmos-psoriase- gozo –corpo-inconsciente-morte.
Se saber para além da linguagem ergue algo;
Se saber para além da fenomenologia implica em algo;
Se cada-todo-nenhum-ser –não-ser-aquém- entre- além –transcendental- aos- prévios- conceitos-
Ilumina minha própria possibilidade de ser completo.
Pelo menos enquanto algo eu se julga eu

sábado, 10 de julho de 2010

VERGONHA


VERGONHA



Não olhes para mim
Não há mais o vento
Ondulando a mata
Dos meus cabelos
Ritmo cantante

Do olhar das manhãs...
Verde, fresco, primeiro.

Dentro de mim:
As noites...
teus olhos, já caídos
Estão no chão da Vergonha
Cinzas do que foi coragem
Do que foi fogo de Amor
A verdade tua:
Já Morta!



Cíntia Thomé





Imagem: @ autoria Cíntia Thomé - 'O dia que você esteve aqui..." 2010 - Flickr

sexta-feira, 9 de julho de 2010

quero a noite

rascunho de mulher/ rafael godoy

ainda que o corpo clame
sinto em mim um deserto morno
a luz que bate de manhã e me faz fechar a cortina
tenta entrar pelas frestas da outra janela
bem-te-vis gritam em desarmonia
cadê os pardais?
os projetos em cima da escrivaninha me olham
os livros que não consegui ler empilhados
e bananas apodrecendo na fruteira
ontem dormi em outra cama
e ouvi : amor, quer café ou suco?
hoje ouço os carros e as pessoas indo pro trabalho
e sei que breve estarei lá misturada nas ruas e nas pessoas
as notícias das crianças do haiti e as enchentes
as atrocidades sem medida e as tragédias
os deuses devem estar dormindo há séculos
esse sol me atordoa quero a noite
e a brisa que soprava do mar

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Leminski


Lia em seu leito poesia de Paulo.


Sem perceber que sonhava,
paulatinamente
combinava fonemas.


Paulo e Lia
fazendo poemas:
ele ditava, ela deitada,
dormia.


O dia chegou:

— Acorda Lia! Bom dia!


No lençol branco da cama
nem uma linha.

0,02%

Redistribuo dúvidas do dia seguinte
Encho de sinais o silêncio
Não procuro primaveras
Nem roubo girassóis azulados
Não sei ler bússolas, nem mapas
Não decifro ventos
Nem tateio cartas descartadas
Enrouqueço a voz quando digo que amo
Enloucresço, olhando teu coração no invisível
Não revelo moedas de ouro
Nem resvalo em peles de cordeiro
Apenas caminho
Enquanto carrego no peito as mãos calejadas de tanto pensar.

É, o que parece
Não ofereço doces ao acaso
Sem sorrir, não há nenhuma flor de maio que me faça chorar.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Por vezes incognoscível


Álvaro e Cíntia iam pra lá quando se sentiam serrados ao meio. Criaram um refúgio incólume, um ninho de vinho e incenso, quase uma homenagem a Eros que não conheciam. Lá, eles também fariam planos quase paranormais e, frente a frente, sorriam de si mesmos, aí paravam e, com voracidade subumana, aniquilavam seus desejos. Depois iam embora. Na volta a este lugar, só mudavam as queixas: os sorrisos e as risadas continuavam as mesmas. Não saturavam as formas animais de partir pros arranhões e mordidas. Cada beijo parecia ter sido reprimido há meses. Com isso, avolumavam as partes, as vontades pareciam durar até não mais existir fim esperado. Naquela cabana não faziam nada, além de desfragmentarem-se.



foto e miniconto : isaias

poeta acidental

a poesia é a privação do silêncio, prefaciou o poeta em seu roubo. o silêncio que agora é quase insuportável, quando a mão escassa de palavras adia qualquer possibilidade. a obsessão do gesto se antagoniza ao deserto dos papéis repetidamente embolados. nenhuma imagem provê a necessidade do verbo. nenhum rumor. nenhuma lembrança. nenhum influxo repentino. nada que impulsione o destro membro ao devaneio da escrita.

à beira do colapso o eremita se projeta no parapeito e atira. letras esparsas. palavras improváveis. frases desconectadas grafadas amiúde nas folhas amassadas. uma atmosfera ready made jamais prevista por Tzara além da espontaneidade do espetáculo. (na madrugada um gari aleatoriamente mistura o catado e não fosse pelo sono de Mecenas se tornaria poeta).

terça-feira, 6 de julho de 2010

Corrente

há corrente
de prender
e de soltar

água doce
de neve
e navegar

onde vagas
as mágoas
vão morar

por saber
saber calar

e ceder
e mergulhar

na corrente
de prender
e de soltar

de olhares
e molhares
feito mar

segunda-feira, 5 de julho de 2010

REALIMENTAÇÃO

Fotografia "Hot barbecue" by Sidclay Dias
I

Poemas com cios coxos
pululam em rodagens recém empoeiradas
como facões enferrujados de circuncisão
no saco escrotal da noite.
Gritos bennyanos surrealistas,
cerrando velhas portas,
empurram o silencio regurgitado
na cabeceira do agora pulsante,
no Artêmis de antes gozo.

II

É no cimo da revolta
que um verbo hipnótico ejacula
bílis de laudas rejeitadas,
traz clareza cáqui
para o arcabouço
da poeticidade multifacetada...
Urros, movendo-se para a relva suicida
desnudam glandes beats
para o recozimento
dos cancros cegos...

III

Sob a peia do jirau
uma rosa fecal abençôa o cubano tragado
e uma insonhável poesia belemita se masturba amarelada
para vagar livre no vaivém das bocas;
para entornar em uma bacia atemporal
o torpor das línguas verborrágicas;
para confundir olhos-lodos,
os fingimentos dos punhais.

IV

Argh! Esta esperança morta
poderia ser o poema-mór
de um sonhador insosso
influenciado por jorros espermáticos
das orquídeas manufaturadas.
Tolo como véu de vulvas
e cínico e bruto como tempestade
hei de cunhar um tempo
em que a obra e o tesão poético de um fazedor
não dependa (jamais!)
da virilidade intelectual
do sorriso.

V

Será o tumor
um poeta de estômago inteiriço?
Ou será o poeta
um tumor de gramática suburbana
repleto de turbilhão de luzes
que copula o sol com socos de boxeador
e goza indolor com sorrisos
fulgurantes e orvalhados?

VI

Volto os meus ouvidos
para os inaudíveis gritos do olhar
que varam a multifaçatez da janela.
No antro além dos calabouços
um homem escreve poemas
e teima em não analisar o feedback da vida.
E agora, depois de incrédulo,
se surpreende (com lagrimas para derramar)
com a profissão da insensatez,
com o encharque da incoerência
rompendo soluços
nas cerrações do tempo morto.

By Benny Franklin

TEMA ESTE TEMA

TEMA ESTE TEMA

I
futebol é paixão e sonho
onde se solta a vida
vendo ou correndo
atrás duma bola

faz como eu
gozando jogar
ou ficando aqui
mero espectador

este é o espectáculo:
fantástico e arrebatador!

II
o teu país joga
o teu clube joga
o jogo joga-se

falo por mim,
tenho este lema:
ganhe o melhor!

procuro ver (o) melhor...

III
o meu cluble?
sou da Académica!

é da minha cidade
e futebol é minha praia

IV
espectador expectante

V
o melhor

mesmo num jogo mau
há imprevisível...

a bola solta-se
indo dum pé à cabeça
tronco ou membros

e temos na baliza
um homem olhando
na defesa das redes
os outros à pesca...

tentando domar a sorte

domingo, 4 de julho de 2010

ASSIM QUE A TEMPESTADE PAROU.

Assim Que Tempestade Parou (Fabio Terra)

Assim que a tempestade parou
Você se sossegou apanhando amuletos da sorte,
E rezou para que Deus consertasse o seu erro.

Mas preso na teia da modernidade
Continuou esperando pela última picada sem dor
E correu para o matadouro a céu aberto

Sangue e leite correram juntos
Nas ruas barulhentas e estranhas
Sangre de Cristo  lave a minha alma
Hóstia Consagrada, me façam engolir à força

Respire, respire bastardo
A fumaça é lenta e vermelha
Não quero mais esperar pelo jornal com minha foto,
Que saiu hoje! E já é passado.

Jabulani

a bola toca o coração
com efeito
com defeito
com alma de amador
com técnica de profissional

a bola faz um bem
a bola faz um mal

bate na trave da esperança
descreve a curva da vingança
mas não é justa
nem cruel

é só bola
pura criança.

sábado, 3 de julho de 2010

dazibao

aos poucos
as almas vão se juntando para ler
uma caneta deselegante e papel de pão
fazem meu dazibao

voz do povo um dia
voz somente minha agora

notícias de vidas passadas
sincronicidade dos profetas adormecidos
sol em sagitário

lembranças coladas nas paredes de cada um
vertidas em cordel e rimas
ascendente zero grau de capricórnio
após a passagem de plutão

corações pregados nos muros
sol chuva e vento
mais corações pendendo dos postes
vaga-lumes como iluminção pública

os restos do meu dazibao são relíquias
que muitos voltam
vendo, lendo, procurando
vestígios dos meus horóscopos
e da sua lua permanente em gêmeos

Modelo de Admissão (Sylvia Beirute)























MODELO DE ADMISSÃO

é como disseste:
só uma pessoa que ama outra
pode e sabe guardar o seu silêncio, mover as suas
falhas orgânicas e os seus vultos erguidos,
ler os erros que não são mais do que instintos que perdem
a consciência, tornando-se
autênticos e desmetafóricos.
e uma falha no silêncio pode não gerar uma fala
ou outro silêncio, sequer meter um ebulidor da
linguagem, bem como
uma falha no tempo de morrer pode não querer
representar a vida comunicante.
uma coisa é certa, e assim o oculto: um quilómetro
enrolado será sempre um quilómetro,
ainda que manifeste uma memória imediata,
uma distância perto.

Sylvia Beirute
inédito

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Canários Mortos

Terça
vai ser um dia real

Hoje
o Brasil
volta pro Brasil

O muro

Naqueles dias
ela percorreu um longo caminho
de desafeto e dores

perversas descobertas
palavras cegas
nós tão cheios de capricho, que lhe faltou imaginação para desatá-los.
O muro lhe pareceu intransponível visto dali
Ela não sabia se era brincadeira ou inocência.
Mas o fato é que ela sentiu medo.
Porque ele se esconde  tanto assim?
Que tanto medo é esse de se entregar?
De longe o redemoinho levantou as poeiras
tão bem assentadas nas garrafas de vidro.

Ventania quando vem não olha nada na sua frente
sai derrubando tudo, agonia e glória!!
O juízo lhe causava uma tremenda desilusão.
Ja se fora o tempo dos sonhos e  da sofrimento em vão.

Nunca mais essa canseira de todo dia a mesma coisa
Nunca mais essa mania de se esconder entre os vãos dos ossos.
Ela preferia os velhos versos de sempre ditos
Aos versos prometidos que deixam o gosto do nunca dito.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sem juízo

Quando perder o juízo
Morderei teu lábio inferior
Como quem beija uma pétala
Te direi poemas secretos
Todo o verbo já dito

E uma flor
Quando o juízo se for